domingo, 21 de março de 2010

Sonhos e Metas

Trabalhar com o teatro para crianças tem sido um enorme aprendizado. Antes do trabalho com a Cia. do Abração, lembrar da minha infância era sinônimo de lembranças tristes, quase adultas, como se eu nunca houvesse sido criança. Porém aos poucos, lembranças há muito esquecidas estão vindo a tona. Lembranças de um a infância longínqua de muitas aventuras em meio a quentes quintais e misteriosas matas, repletas de seres mágicos que embalaram meus sonhos de criança do interior de Minas Gerais.
Tem sido um balsamo recordar dessa fase doce de minha vida. Por muito tempo me senti alijada da infância.

Ontem coincidentemente, na casa de uma amiga, me deparei com um texto de Roberta Faria – Editora chefe da revista Sorria, falando exatamente desse assunto e que transcrevo um trecho aqui na ânsia de compartilhar sua delicadeza e importância para o trabalho que estamos desenvolvendo em busca de sentido verdadeiro, sentido que emprestamos a partir de nossos experiências vividas, agregando a obra de arte uma importância única. Assim:

“Um dia, a idéia apareceu, e pronto: De repente, eu soube que, se escavasse um buraco bem fundo na areia do parquinho, iria encontrar água. Não essa de poça: água azul-clarinha, transparente, como de piscina, cheia de flores e peixes coloridos. Então, mergulharia no buraco. Nadando entre os cavalos marinhos, chegaria ao lago. Lá o arco-íris do céu nunca sumia, a água clarinha da cachoeira caia sem machucar, podia ir na roda gigante e comer cachorro quente até cansar. Mais ninguém morava ali, só os unicórnios. Tinha certeza absoluta de que este lugar era real. Podia descrevê-lo em detalhes, sentir seus cheiros, cores e sons. Em todos os meus recreios dos meus 6 anos me punha a cavar. Imaginar é o maior dos superpoderes. Se não dá vida aos sonhos, ao menos nos deixa mais perto das vidas que sonhamos ter. E faz tudo ser possível outra vez”.

Sinto falta de verdades inquestionáveis assim. De tanto nos dizerem que não dá, não pode, não existe, desaprendemos a imaginar o impossível. Passamos a duvidar dos sonhos. Retornar e essas lembranças fortalece minha crença nos sonhos. E sonhos compartilhados, sabemos, são ainda mais poderosos.

Como meta coreográfica, me coloco o desafio de trabalhar, utilizando como suporte também para a preparação física, a técnica do bale clássico, vislumbrando muitos deslocamentos espaciais leves, giros, saltos e conduções corporais em duplas, trios ou quartetos, sempre com muita delicadeza, agilidade e destreza próprias da dança clássica que possam contribuir/colocar-se a serviço de contar uma história. Tarefa que pretendo desenvolver buscando comunicação, beleza, magia e brincadeira. Será que eu consigo? Baita desafio! Ufa, não estou sozinha, trabalharemos juntos!
Também trabalhando na busca de aproveitar o potencial de cada ator, a partir do material que iremos levantar através do ensaios, pretendo juntar a técnica perfeita do bale clássico acompanhada do sonho de toda criança de voar nas pontas dos pés, a mágica proposta através da criação de personagens/corpos imaginários, que possam nos conduzir à criança de cada um de nós e assim, através dessa cumplicidade, despertar a curiosidade e o interesse das crianças com as quais iremos compartilhar esta história.

A preparação física irá exigir dos atores interesse e dedicação para que eles possam, através da assimilação da técnica, aliada a criação corporal e coreográfica, aproveitar o material treinado/criado inserindo-o em seus improvisos de cenas. Os atores poderão ainda aproveitar esse repertório de movimentos como ponto de partida para a construção desses seres mágicos que saem debaixo da cama do quarto de Albertinho. Será esse o início de tudo ?!?!

3 comentários:

  1. O Ultimo ensaio trouxe algumas questões a serem pensadas, algumas necessidades que começam a aparecer, como o inicio da construção desses personagens, desses seres mágicos, encantadores, que formam um único ser. Que fazem parte de um único ser. Profundidade, o inicio da busca por um sentido maior naquilo que começamos a criar, buscar, inventar, sobrevoar. Por quê? Pra quem? Quem? Onde? Como? Um encontro que nos fez pousar e sentir a obra com os pés no chão. É necessário que o corpo comece a trabalhar para o espetáculo, buscando novas técnicas, aperfeiçoando ás já conhecidas para que o trabalho físico também no ajude a criar a ilusão e o mágico. É tempo de voar, mas também de estar preparado para pousar quando necessário e remeter quando for o caso. Os sonhos começam a nascer e com isso é necessário que se recorde, relembre e refaça para que ele não seja apenas um sonho.

    ResponderExcluir
  2. (...) Qualquer tempo é tempo pra quem sonha de verdade:
    - é só esperar pra ver

    Esperar e, é claro, se mexer,
    porque sonho depende de muita fé e trabalho
    até o dia de acontecer

    E esse dia pode demorar
    mas com toda certeza vem,
    porque o sonhador sabe muito bem
    a força que um sonho tem

    Força que nos anima a continuar lutando
    apesar dos fracassos,
    do cansaço,
    da falta de recursos,
    da velhice chegando...

    Porque sonho é pra ser vivido,
    ser buscado, ser perseguido,
    sem desistir nem desanimar...

    ... Com toda a força da alma
    com todo o engenho das mãos
    com a lucidez das idéias
    e o fogo ardente da paixão (...)

    Sonhos (Geraldo Eustáquio de Souza)

    Os sonhos para o papel, do papel para o palco... Esta chegando o momento, o momento de realizar essa história que vamos contar para quem quiser escutar! Não sabemos como vai ficar, mas sabemos que apesar dos tombos sempre vamos voar!

    ResponderExcluir
  3. Fragmento I

    Aqui estou aprendendo a voar...
    Deixando de me apegar
    Entrando na contramão
    Dos loucos de carteirinha e de coração
    Aqui estou aprendendo a mergulhar...
    Numa profundidade de mililitros de ar
    Celsu, Farenheith e formulas oriundas do calcular.
    Que alguns chamam de ciências matemáticas
    E eu chamo de ciências asmáticas
    Onde a dor de se criar não alivia
    E só incomodam aqueles que não aspiram...

    ResponderExcluir

"O sonhador tem sempre uma nuvem a transformar. A nuvem nos ajuda a sonhar a transformação."

Gaston Bachelard